terça-feira, 23 de junho de 2020

Capítulo 1

 Na madrugada do ano de 1990, quando eu tinha apenas dezoito anos de vida, no bairro do Andaraí, da Zona Norte do Rio de Janeiro, durante o Verão daquele ano, enquanto cursava o terceiro ano do ensino médio no Colégio Pedro II na unidade do Centro da Cidade, tive um sonho que mudaria completamente o curso da minha vida. Foi-me revelado a existência de uma criatura que tem por cada um de nós um amor sublime e encantador, fruto do amor divino no momento da criação como presente imortal que nem o tempo e nem os ladrões poderão nos tirar. Um presente mágico que faz que esta vida de desterro, lágrimas e sofrimento seja tolerável. Foi-me revelado a existência do amor entre as Almas Gêmeas. Ao despertar do outro lado do véu, sem a roupagem física, pelo sono vegetativo de meu corpo, pude desprender-me do escafandro pesado que me prendia ao mundo material e adentrar-me em um bosque mágico, cuja atmosfera era fantástica e cheia de belezas e com todo o esplendor da natureza em profusão. Embriagado por emoções fortes e profundas adentrei-me ainda mais pelo bosque encantado com todas aquelas belezas naturais ao redor até que me deparei com figura singular e atraente que me enchia de surpresa e despertava-me grande curiosidade. Sentei-me ao lado dela e parecia que já nos conhecíamos de longa data e que ela era de fato o meu propósito de ali estar, então ficamos a conversar por um tempo que me pareceu horas a fio até que chegou o momento de nos despedirmos. E ao sentir que o momento da despedida se aproximava, agarrei-me em suas pernas e de lá não queria mais me apartar, foi quando ela me disse de forma inesquecível e intensa estas palavras, que trago comigo até hoje, quase trinta anos depois, como se tivesse acontecido ontem: “André, André nós iremos nos encontrar, nos conhecer, nos casar e sermos muito felizes juntos!” e ao entrar outra vez no escafandro pesado da minha roupagem terráquea, senti meu corpo todo estremecer por uma energia incrível e singular, que nunca mais senti outra em toda minha vida com toda aquela intensidade! Um êxtase a percorrer cada célula do meu corpo que me fez gritar pelo nome dela banhado em suor! Levantei-me da cama, olhei o relógio, eram mais ou menos quatro e meia da madrugada, fui à cozinha e apanhei um copo d'água no filtro que lá havia e enquanto bebia sedento aquela água, ia me recordando detalhe por detalhe aquele sonho que mais me parecia uma grande revelação divina em minha vida! As almas gêmeas de fato existiam, e eu havia acabado de encontrar a minha!
Enquanto ia me recordando dos detalhes daquele sonho maravilhoso e inesquecível, também ia tentando guardar os detalhes do rosto dela e do nome que proferira ao acordar em êxtase daquele encontro mágico e sublime que mudaria toda a minha vida! E voltei pra cama com o desejo de outra vez encontrá-la. Doce ilusão, contudo, na vida como no sonho nada vem de graça. Um encontro como aquele não se tem todo dia e toda hora, e já se passaram trinta anos e ainda não tive outro igual até o momento em que escrevo estas palavras. Os detalhes do rosto dela e o nome que proferira?! Bem, também foram-me tirados como por encanto, só guardara a promessa dela e a recordação daquela sensação incrível de êxtase que ela me provocou ao proferir aquelas promessas suaves e intensas! Nos dias que se sucederam, ficou o intenso desejo de encontrá-la mais uma vez e de forma definitiva, mas Deus parecia que estava querendo me dar uma lição de paciência e perseverança até que um dia, novamente ela me apareceu, e outros detalhes surgiram em outro sonho. Não havia passado muito tempo depois do primeiro, acho que foram apenas alguns meses depois, sonhei que estava dentro de um ônibus cheio de passageiros sentados e outros como eu em pé. Eu olhava fixamente para além da janela, observando a paisagem passar do lado de fora, com o pensamento nela, a perguntar-me onde ela poderia estar, quando o ônibus havia parado e eu observado que mais dois passageiros adentraram o veículo. Um senhor que foi logo se sentando na última cadeira do ônibus e uma bela jovem com os cabelos lisos e sedosos que ficou em pé do meu lado e antes que eu pudesse olhar para o rosto dela, ela colocou a mão sobre a minha que segurava a barra de o ferro que me sustentava em pé e me protegia dos solavancos do ônibus, e outra vez aquela energia misteriosa me provocava um profundo êxtase, com menor intensidade do que a primeira vez, mas que me revelava outra vez ser aquela moça, a minha alma gêmea que viera ao meu encontro em resposta às minhas súplicas! O que eu posso falar para vocês, queridos leitores?! O meu desejo é que todos passem a acreditar em Almas Gêmeas, que todos possam se almagemizar e passem a buscar suas almas gêmeas, assim como eu tenho feito todos estes anos! Mas como fazer isso se nem ao menos eu de fato ainda estou com a minha alma gêmea do meu lado em minha vida corpórea?! Não preciso nem dizer a vocês o que este sonho despertou em mim e nem das frustrações, dores, decepções, revolta e por último depressão e desejo de morrer que este sonho causou em minha adolescência inexperiente. Que preocupações meus amigos, pais, irmãs e parentes tiveram comigo. O que eu posso e devo dizer é o que sobreviveu em mim durante estes quase trinta anos, a convicção quase científica da existência das almas gêmeas!

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